Blog novo

Novo blog, novos ares:
:)

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Retrato de um Centro

O choque térmico é inevitável. O ar bate em sua face, fazendo-o sentir a forte humidade que perdura no ambiente. Consegue ouvir lá embaixo um "tecnobrega" tocando alto por um camelô que tenta vender seus cd's piratas. Pisa no elevador e aperta o botão do térreo, sentindo o ambiente ficar mais abafado e a agonia agora cortando seu corpo. Como todos os dias, maldiz o calor da cidade, sem solução, contudo. vai lá fora, no comércio que fede a mofo. Caminha agora com o sol escaldante torrando sua nuca e fazendo-o maldizê-lo também. Desvia das pessoas com pressa. Esbarra em uma, que olha torto. A velha senhora negra pede-lhe um trocado. É negado, devido a pressa, se estivesse com calma daria até. Passa em frente a loja com cheiro de mofo. Olha para dentro. Vê a face irritada e faminta das vendedoras que anseiam pelo intervalo. Começa a suar e irritar-se ainda mais. O calor deixa-o ansioso e agoniado. Dá meia volta pois entrou em uma esquina errada. Sente o cheiro do tacacá de uma barraquinha entranhar em suas narinas e fazer lembrar a fome que clama em seu estômago. A decepção chega rápido e quase faz voltá-lo. Pergunta à outro camelô, que passa-lhe uma informação meia-boca de forma mal educada. Maldiz o camelô agora. Por fim acha o que procurava. Sentindo a camisa colar em seu corpo, devido ao suor. Pede o fone. Trinta reais. Pago. Volta, satisfeito. Liga o Mp3 player. Testa, tudo ok. Sente o ar-condicionado. O cheiro do cigarro no ar. O alívio. O descanso.

...

Há tempos ele não a vê. Ela namora já faz um tempo. Ele evita até pensar, pois só se perde em devaneios. O sentimento provoca dor. Ele aguarda. Espera que um dia o mundo seja gentil e prestativo para si. Espera apenas uma boa chance, um momento certo no dia certo. E se assombra todo dia só de imaginar que esse dia ainda não chegou e pode não chegar. Esteve tão perto. Agora é mais difícil. Mas ele tem fé. Ele sabe que esse dia vai e ainda há de chegar.

Jovialidade sonhadora...

Seja. Use. Aja. Faça. Apareça. Receita para ser alguém. Aja assim, seja engraçado, seja fashion, use certas coisas, apareça no momento certo. Assim você engana a todos, fingindo ser quem não é. Não seja você mesmo, talvez não encante à todos que você quer e não crie o efeito esperado. Alimente sua ilusão de ser assim e então varra suas frustrações para debaixo do tapete. Apareça, fará com que as pessoas gostem mais de você e lhe dêem mais atenção. Alimente seu ego com falsos motivos para ser melhor que alguém. Não seja você mesmo mas afirme ser apenas como quer e os outros que se danem. Juventude exasperada, juventude fracassada. Momentos capturados, poses de cinema, vida iludida e uma auto imagem consolidada. Um dia, tudo acaba da mesma forma que veio, vai por água abaixo e vem a vida, da forma mais vil e cruel possível, delineando à garota o mundo em que vivemos e declarando o fim da jovialidade sonhadora.

Brasil colônia, até hoje...

Certa vez tive em mãos um artigo de um cientista político que considerava as raízes ibéricas como principal razão dos problemas atuais do país. Em suma, dizia que quem vinha de Portugal para o Brasil eram ladrões, falidos, prostitutas, escravos etc. Ele está errado? Na minha opinião não. Para efeito de comparação, os EUA foram uma colônia de povoamento, diferente do Brasil que foi exploração. De qualquer jeito a Inglaterra não detinha a desorganização e as mazelas em que a corte portuguesa se metia, ou foi pouco divulgado a caótica figura de D. João VI e sua família? Até o séc. XIX, o Brasil era composto predominantemente por escravos, e portugueses recém chegados ou já radicados no Brasil. Muitos navios aportavam com ladrões e outros tipos que vinham tentar a sorte na colônia, onde ora o ouro, ora a cana, ora o café ecoavam na cabeça daqueles que nada tinham em Portugal. A abolição da escravatura, juntamente com o início da república, foi o estopim para os problemas atuais brasileiros. Os negros, juntamente com os portugueses que nada tinham, faziam nascer a configuração atual do Brasil, em que pobreza e o desemprego imperam na sociedade. Os imigrantes italianos e alemães, junto com os outros grupos, vieram para compor a classe média brasileira, inicialmente trabalhando nas lavouras ou mesmo tentando a sorte em negócios no norte do país. Qualquer um pode pensar que isso "faz muito tempo, hoje em dia ninguém é mais assim". Porém, não esquecemos que valores são passados de pai para filho. O tal "jeitinho" que tanto falam, nada mais é que resultado desse turbilhão de cultura em que é metido o Brasil junto com tantos outros que nos fazem ser o que somos.

Glamour da nova geração...

-Meu, pra onde tu vai hoje?
-Tô afim de ir pro Solar Antique.
-Égua, vai ser foda lá hoje, vai dar muita gente.
-Por isso mesmo, vamo?
-Com certeza!
Nada mais característico da vida noturna da cidade de Belém. Vá a tal lugar para ser visto. Apareça na coluna tal. Seja um VIP da cidade. Balela. Pura baboseira. Características únicas da cidade de Belém. Chamo de síndrome de "Pinto no Lixo". Narizes erguidos por uma singela aparição e o justo título de casal VIP do ano em Belém do Pará. Coisas da classe média paraense que destoa da real composição da brasileira. Típico de povo atrasado. Prêmios como: VIP do ano, casal do ano, VIP original do ano. Não vi coisa pior. Colunas sociais não são inúteis. O glamour de antigamente ainda prevalece em algumas delas, mas a nova geração pago pra ver. Até um tipo de "teste do sofá" é comentado em uma conhecida ultimamente. Gente que faz de tudo pra aparecer e poder se vangloriar depois. Festa tal no lugar da moda. Vá para ver e ser visto. Quem sabe assim você aparece na coluna? Ah, talvez ajude a pegar as garotas. Elas querem caras famosos. Isso me entristece. Ver a forma que a nossa querida Belém está tomando com a nova geração. Futilidade imperando numa sociedade ignorante e que cultua valores completamente inúteis no lugar de outros.
Isso é Belém do Pará...

Lembrando que é apenas uma opinião.